Por Clarissa Peixoto
A Marcha das Vadias de Florianópolis reuniu na tarde do último sábado (5) um conjunto de organizações feministas, das mais diversas vertentes e atuações, para uma roda de conversa, na sede do Instituto Arco-íris, no centro da cidade.
Que feminismo te contempla? foi o mote da roda de conversa que teve como objetivo compartilhar vivências e discutir perspectivas de luta feminista em Florianópolis.
A reunião promoveu também o encontro de um número expressivo de organizações, sejam de controle ou de mobilização social, que puderam expor suas concepções e objetivos ao grande grupo, numa tarde fria de junho, aquecida pelo vigor das ideias e experiências trocadas. Mas, a atividade foi além: reforçou aspectos como a sororidade entre os movimentos na intenção de confrontar as diversas formas de opressão de gênero e sexualidade.
As primeiras colocações para estimular o debate foram feitas pelas integrantes da Marcha das Vadias que apresentaram o desejo do coletivo de organizar a marcha a partir de encontros com os demais movimentos. “As lutas contra as opressões não devem caminhar separadas, principalmente neste momento em que há um quadro de retrocessos e forte ofensiva do campo religioso”, apontou Éris Alice. Na sequência, houve a apresentação de um vídeo sobre a marcha, produzido pelo coletivo de comunicação Maruim.
Na roda de conversa, cada coletivo falou sobre o contexto em que atua e sua relação com a questão de gênero, como foi o caso da Batalha das Mina que reúne mulheres que atuam no rap. De acordo com a integrante do grupo, Marcelle Costa, o movimento surgiu porque nas batalhas tradicionais, “os homens apelavam para as roupas e para a sexualidade das mulheres. Por isso, nasceu a Batalha das Mina, para dar voz as mulheres no rap. Machista na batalha não vai ter espaço”, reforçou.
Hellen Lopes, também da Batalha, aponta que um dos objetivos do coletivo é “denunciar a opressão de gênero no nosso espaço e na rua. As mulheres ainda estão longe de chegar no lugar dos homens que fazem rap, então nos unimos para criar uma batalha para as mulheres e para LGBTs que são reprimidxs no movimento. Somos tratadas como minoria”.
Carla Ayres, do grupo Acontece Arte e Política LGBT, reforçou a fala enquanto mulher lésbica e definiu a compreensão do coletivo sobre o feminismo como “um movimento político, teórico e popular, que reconhece a sociedade como patriarcal e o capitalismo como sistema que promove as desigualdades”.
Outras perspectivas de luta feminista também estiveram presentes. Entre elas, o coletivo Ana Montenegro apontou como saída a superação do capitalismo por uma sociedade socialista. Perspectiva semelhante foi trazida também pelo Mulheres em Luta. Para Gabriela Santetti, representante do movimento, “a luta das mulheres encontra um limite na sociedade de classe, por isso o feminismo tem que estar ligado ao recorte classista”.
Quando o assunto foi a violência de gênero e racial, Cristiane Mare da Silva, da Unegro, apontou as especificidades da luta da mulher negra e os porquês de poucas ocuparem aquele espaço de discussão “Se as mulheres negras não estão aqui é porque não se sentem representadas. Dialogar com as mulheres brancas não é uma tarefa fácil”. Cristiane enfatizou ainda a história de opressão à população negra e como ela reflete diretamente nos dias atuais.
Entre os demais movimentos presentes estiveram: Agrupa/UDESC; Casa da Mulher Catarinas, Rede Nacional Feminista de Saúde, Maria Bonita/Biologia UFSC, ADEH, Estrela Guia, Conselho Estadual de Direitos da Mulher, Conselho Municipal de Direitos da Mulher/Florianópolis.
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