Abaixo o manifesto lançado por organizações que compõem o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher:
MANIFESTO DE ORGANIZAÇÕES DO CNDM EM DEFESA DO
ESTADO DEMOCRÁTICO E DE DIREITO E EM REPÚDIO
AO DESMONTE DA SPM
O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, CNDM, constitui um marco
na história política do Brasil. Sua criação em 1985 (Lei 7.353/85) representa a luta
das mulheres brasileiras na afirmação de sua igualdade social como fator
fundamental para um verdadeiro processo de democratização de nossas
instituições políticas, após 21 anos de ditadura militar. O CNDM teve um papel
fundamental na garantia dos direitos da mulher na Constituição de 1988.
Desde então o CNDM tem exercido a função de propor, avaliar e fiscalizar as
políticas públicas com vistas a promoção dos direitos das mulheres (Decreto nº
8.202 de 2014).
Exerce esse controle através de suas integrantes, representantes
da diversidade do universo de mulheres brasileiras e atuantes na defesa de seus
direitos através de redes, articulações, entidades de classe, associações,
sindicatos e organizações não governamentais.
Cumprindo seus objetivos o CNDM coordenou as 4 grandes Conferencias Nacionais
para a elaboração de políticas públicas para as mulheres, em articulação com a
Secretaria de Políticas para as Mulheres-SPM.
A esse ciclo virtuoso de conquistas
e avanços, enfrentamos hoje o desmonte do Ministério da Mulher da Igualdade
Racial e dos Direitos Humanos, que passa a ser. uma subsecretaria do Ministério
da Justiça.
Acompanhamos, com muita preocupação e indignação, o desenrolar do golpe que
a cada passo desmonta as políticas sociais, sobretudo com a Publicação da Nº
611/junho de 2016, que desmobilizou e inviabilizou por 90 dias todas as atividades
dos Conselhos de Controle Social, vinculados ao Ministério da Justiça. Se não
bastasse, outra grande perda com a publicação do decreto publicado no último dia
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22/06/2016, transferindo e subtraindo os recursos no valor de R$12.927.981,00 já
destinados à SPM, para Presidência da República.
Para além dos desmandos, das contradições e das irregularidades amplamente
denunciadas, tanto do encaminhamento deste processo, quanto das figuras que o
encaminham, sobre as quais pesam múltiplas e comprovadas acusações,
preocupamo-nos também com o papel da grande mídia. Em ação determinada e
articulada com setores do judiciário e do parlamento, esta mídia ora fabrica, ora
repercute seletivamente notícias, fatos e factoides que ajudam a construir a versão
de um crime inexistente que se quer legitimar, sem o menor respeito à diversidade
em suas fontes, ou à pluralidade de opiniões, como deveria ser a função de uma
mídia minimamente imparcial e descente. Quem são os beneficiários dessa
manipulação?
Culparam a presidenta pela crise econômica em curso, embora saibam que a crise
é global, e vem se arrastando, atingindo economias de grandes países capitalistas
em todo o mundo. Utilizaram-se de repertórios machistas e misóginos para
difamar a figura da presidenta eleita pelo simples fato de ser mulher. Charges,
memes, hashtags pornográficas, adesivos alusivos ao estupro da presidenta,
reportagens de jornais e revistas traduzem o duro viés do discurso misógino,
fundado no patriarcalismo estrutural presente na sociedade brasileira. Os meios
utilizados para desconstruir a imagem da presidenta Dilma enquanto gestora e
mulher, não agridem somente a ela, agridem a todas nós mulheres e motivam a
incitação e apologia do crime contra mulheres, tão evidenciado nos últimos dias.
A absurda reforma ministerial realizada pelo governo ilegítimo encabeçado pelo
vice Michel Temer logo após a votação pela admissibilidade do processo de
impeachment no Senado, modificou diversas prioridades políticas do mandato
eleito democraticamente pela população brasileira. Vários ministérios foram
limados ou desmontados.
Qual será o destino dos programas sociais? Qual será o
destino dos projetos que defendiam mulheres, negros, LGBTTs, pessoas com
deficiência, pessoas sem moradia?
O nosso país é constituído majoritariamente de mulheres e de negros e o governo
interino, de forma compatível com a atitude retrógrada e discriminadora, não
indicou nenhuma mulher, nenhum negro para compor o primeiro escalão do seu
governo ilegítimo.
Além dessa atitude claramente machista e racista, indicou para
dirigir as principais pastas da administração federal, um grupo de deputados
federais que incluía vários investigados e com ordens de prisão decretadas
conforme fartamente divulgado pela mídia.
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Se não bastasse, o presidente ilegítimo nomeou a ex-deputada federal Fátima
Pelaes que se opõe ao Estado laico e defende a submissão deste às crenças
religiosas.
A nova secretária, além de tudo, ainda é alvo de processo no seu Estado
do Amapá, por desvio de quatro milhões de reais do Ministério do Turismo. Isso é
uma agressão a todas as mulheres brasileiras que se manifestam contra sua
nomeação por todo o país.
É inaceitável que os compromissos eleitos nas urnas sejam vendidos.
E lembrando Simone de Beauvoir: ESTAMOS VIGILANTES.
"Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que
os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes.
Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.
Simone de Beauvoir
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