Texto e fotos: Paula Guimarães.
A presidenta do Conselho Estadual
dos Direitos das Mulheres (Cedim), Sheila Sabag, alertou para o cenário de “desmonte
das estruturas voltadas às políticas para as mulheres”, tanto no governo
federal quanto estadual, em plenária realizada nesta semana, na sede
da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho e Renda, em
Florianópolis. “Esse governo (Temer) veio para aniquilar o controle social e
tudo que se construiu nos últimos anos em termos de políticas sociais”, afirmou
ela que também integra o Conselho Nacional dos Direitos das
Mulheres (CNDM).
Em entrevista ao Catarinas,
Sheila analisou o momento político e consequências para a participação e o controle social nas políticas para mulheres.
A pauta das mulheres vem perdendo
força no governo federal desde a extinção da SPM, passando pela integração em
outro ministério e depois com a extinção desse ministério também. Como você
avalia essas mudanças, como elas afetam a luta das mulheres por direitos ou
manutenção daqueles já conquistados?
Desde a sua criação em 2003 a SPM vinha
trabalhando para criação, implementação e manutenção das politicas para as
mulheres no Brasil. Como ministério, tinha interlocução direta com os demais, implantou
e monitorava junto com o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), o
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). Quando foi integrada ao
Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, perdeu sua
autonomia, mas como secretaria especial manteve diretorias fundamentais como a
de enfrentamento a violência contra as mulheres. Com a extinção do ministério
das mulheres, pelo governo atual, houve um retrocesso de no mínimo 30 anos de
lutas dos movimentos de mulheres e feministas. O vínculo da SPM ao Ministério
da Justiça e Cidadania, levou consigo a esperança no avanço crescente que
estávamos tendo nas políticas para as mulheres, e levou também o CNDM, que pouca
força terá para fazer o enfrentamento necessário aos desmandos que com certeza
virão. Isso porque será presidido por uma mulher que reponde processos e já
se posicionou contrária ao aborto
permitido, inclusive em casos de violência sexual, além de defender o estatuto
do nascituro e o bolsa estupro. O CNDM, por lei, é presidio pelo governo. Um dos fatores mais preocupantes
foi a criação pelo Ministério da Justiça da Portaria Nº 586, de 1º de junho de 2016 que criou o Núcleo
de Proteção à Mulher no âmbito do Ministério da Justiça e Cidadania, que não
fará o enfrentamento à violência, pois preconiza a proteção, conforme designação
nominal. Percebemos total falta de conhecimento sobre o as políticas de
enfrentamento à violência contra a mulher já existente há décadas.
O que a nomeação de Fátima Pelaes
que se diz contra o aborto até mesmo em caso de estupro, por questões
religiosas, representa para os direitos das mulheres? O que essa nomeação diz
sobre o governo Temer?
Mostra exatamente a falta de
compromisso com as políticas sociais. Para esse governo as políticas sociais
não existem, passaram novamente ao contexto assistencialista e não de direitos.
Quanto a Fátima Pelaes, o que se pode dizer a respeito, senão, infelizmente é
muito triste perceber que mulheres como ela, julgam e punem outras mulheres em vez
de acolhe-las. É inaceitável que uma mulher assuma a SPM dizendo que é contra
direitos. Fátima Pelaes não me representa e não é digna para estar a frente da
SPM por não reconhecer que mulheres são sujeitas de direitos, e por estar sendo
acusada de se beneficiar de fraudes quando esteve no Ministério do Turismo.
Como as conselheiras devem se
posicionar diante dessa nomeação e das mudanças propostas pelo novo governo?
As organizações da sociedade
civil que compõem o CNDM já se posicionaram através de documentos próprios, são
contrárias a esse governo golpista que desmantelou as políticas da mulher, da
igualdade racial, e direitos humanos, entre outras. A Articulação de Mulheres
Negras Brasileiras (AMNB) já encaminhou documento informando que não apoia esse
governo e retirou-se de todos os conselhos em que possuía representação,
inclusive no CNDM, outras organizações também já declararam sua saída do CNDM. A
maioria permanece resistindo e continuarão pelo menos até o término do
julgamento do processo de afastamento da Presidenta Dilma. Se a Presidenta
realmente for afastada por esse golpe político, tomarão outras decisões.
O que os movimentos e as mulheres
podem esperar daqui pra frente de um governo que se constitui sem a
participação de mulheres e outras representações da sociedade em seus
ministérios?
Nada. O que se pode esperar de um
governo usurpador, desrespeitoso com os direitos humanos, envolvido em
corrupção, cujo presidente interino é inelegível por oito anos, que entregou o
ministério da justiça ao defensor do Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior
organização criminosa do Brasil, que comanda rebeliões, assaltos, sequestros,
assassinatos e narcotráfico, e a Secretaria de Políticas para as Mulheres -SPM,
a uma mulher que é investigada por participação em esquema de corrupção por desvio de R$ 4
milhões do Ministério do Turismo?
Recentemente, a pasta das
mulheres no governo do Estado também sofreu mudanças em sua estrutura, saiu da
casa civil para integrar a Secretaria de Assistência Social. O que isso
representa na prática, em termos de estrutura e recursos financeiros? Como o
conselho avaliou essa mudança?
Muitas perdas, um retrocesso na
política estadual da mulher catarinense, já fragilizada.
Com a saída da Coordenadoria Estadual da Mulher (CEM), da Secretaria da Casa Civil,
e vinculação à Secretaria de Assistência Social Trabalho e Habitação, a
Coordenadoria perdeu sua representação política, autonomia e quadro de recursos
humanos. Decisão equivocada do governo estadual de Santa Catarina que entende a
política da mulher como política assistencialista. Esse é o entendimento de um
governo conservador, que não respeita as mulheres, visto que retirou do plano
estadual a discussão gênero nas escolas, tão importante para a desconstrução da
naturalização da violência contra a mulher, que remete o estado ao quinto lugar
do ranking nacional em estupro de mulheres. Uma vergonha para as/os
catarinenses.
Composição
O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) foi criado
em 1985, vinculado ao Ministério da Justiça, para promover políticas que
visassem eliminar a discriminação contra a mulher e assegurar sua participação
nas atividades políticas, econômicas e culturais do país.
De 1985 a 2010, o CNDM teve suas funções e atribuições
bastante alteradas. Em 2003, ele passou a integrar a estrutura da SPM e a
contar, em sua composição, com representantes da sociedade civil e do governo.
Isso ampliou significativamente o processo de controle social sobre as
políticas públicas para as mulheres.
O órgão é constituído por quarenta e uma conselheiras titulares, sendo vinte e uma da sociedade civil, dezesseis governamentais, três especialistas nas questões de gênero e uma conselheira emérita, escolhidas na forma do artigo 3º do Decreto nº. 6.412/08.
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