"Existimos e Resistimos" é a mensagem da primeira Marcha da Negritude Catarinense, que ocorre no
próximo sábado, dia 16, no centro de Florianópolis. A concentração começa às 9h, na escadaria
da Igreja Nossa Senhora do Rosário, com músicas e cânticos das raízes africanas, em
homenagem aos povos ancestrais e à diversidade cultural. Durante o percurso,
manifestantes vão fazer paradas em pontos de relevância histórica ao movimento negro,
com a realização de leituras e homenagens. Apresentações culturais encerram a marcha em celebração ao povo negro e sua resiliência.
“A luta por direitos é o pano de fundo
que une diversas vertentes dos que lutam por igualdade no estado”, afirma a
professora Liliane
Bernardes, integrante do Coletivo de Mulheres Negras Pretas Desterro. Em
entrevista, ela aponta
para a falta de ações afirmativas e políticas de inclusão voltadas para
mulheres e homens negros que tiverem seus direitos historicamente sonegados.
Registro da primeira reunião em junho |
Através dos diversos setores da
política e da constituição da sociedade propagam a exclusão do negro. Considerando
a falta de ações afirmativas e políticas de inclusão, a inércia em que estamos
inseridos é reflexo da desigualdade social e falta de políticas debates e rodas
de conversas para dialogar. Na questão cultural, a identidade do negro ainda é imposta
por uma visão eurocentrada, onde não há de fato a história do sincretismo e
ancestralidade do negro enquanto sujeito. Inserir a realidade dos fatos em
livros didáticos é uma bandeira histórica dos militantes dos movimentos negros.
- O
movimento de mulheres negras está integrado? De que forma se dá essa integração
e o que as mulheres negras reivindicam nessa marcha?
As mulheres negras que apoiam esta
marcha são oriundas de diversos movimentos coletivos e entidades de atuação no
estado para defesa da mulher. As mulheres negras unificam nossa luta e nos unem
nesta marcha.
- Como
é ser negro neste estado "de brancos"? Santa Catarina é um estado
racista? Como homens e mulheres negras se sentem aqui?
Ser negro em Santa Catarina é vivenciar
e experenciar uma governabilidade voltada para o eurocentrismo, onde nós, mulheres e homens negros, não somos contemplados no acesso a políticas públicas. As leis que deveriam
nos incluir e proteger não têm sua aplicação de fato. Santa Catarina está entre
os estados que têm o maior número de vítimas de preconceito de gênero e racial,
o que coincide com a tradição de sua colonização.
-
Florianópolis permite a mulheres e homens negrxs a ocupação dos espaços
centrais da cidade, mobilidade, acesso às artes e cultura?
A falta de recurso é o maior obstáculo
para que possamos ocupar estes espaços. Aceitamos migalhas e com elas
sobrevivemos a essa invisibilidade insistente.
- O que
essa Marcha busca despertar nas pessoas? Quais as expectativas com a ação?
A Marcha busca o empoderamento do negro através do acesso aos
direitos políticos e de exercício da cidadania. Marchamos pela diversidade
cultural, liberdade religiosa, contra o genocídio do nosso povo. Marchamos para
sermos vistos e termos nosso protagonismo reconhecido na história da construção
deste país. Marchamos pelas portas de emprego que se fecham. Marchamos para ter
direito a cultuarmos nosso sincretismo. Pelos irmãos quilombolas que resistem
ao tempo e insistem em não ser esquecidos. Marchamos por que existimos e
resistimos.
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