quinta-feira, 14 de julho de 2016

Marcha da Negritude Catarinense reúne movimentos no próximo sábado



"Existimos e Resistimos" é a mensagem da primeira Marcha da Negritude Catarinense, que ocorre no próximo sábado, dia 16, no centro de Florianópolis. A concentração começa às 9h, na escadaria da Igreja Nossa Senhora do Rosário, com músicas e cânticos das raízes africanas, em homenagem aos povos ancestrais e à diversidade cultural. Durante o percurso, manifestantes vão fazer paradas em pontos de relevância histórica ao movimento negro, com a realização de leituras e homenagens. Apresentações culturais encerram a marcha em celebração ao povo negro e sua resiliência.

“A luta por direitos é o pano de fundo que une diversas vertentes dos que lutam por igualdade no estado”, afirma a professora Liliane Bernardes, integrante do Coletivo de Mulheres Negras Pretas Desterro. Em entrevista, ela aponta para a falta de ações afirmativas e políticas de inclusão voltadas para mulheres e homens negros que tiverem seus direitos historicamente sonegados.

Registro  da primeira reunião em junho
- Quais as principais demandas dos movimentos negros atualmente em Santa Catarina?
Através dos diversos setores da política e da constituição da sociedade propagam a exclusão do negro. Considerando a falta de ações afirmativas e políticas de inclusão, a inércia em que estamos inseridos é reflexo da desigualdade social e falta de políticas debates e rodas de conversas para dialogar. Na questão cultural, a identidade do negro ainda é imposta por uma visão eurocentrada, onde não há de fato a história do sincretismo e ancestralidade do negro enquanto sujeito. Inserir a realidade dos fatos em livros didáticos é uma bandeira histórica dos militantes dos movimentos negros.

- O movimento de mulheres negras está integrado? De que forma se dá essa integração e o que as mulheres negras reivindicam nessa marcha?
As mulheres negras que apoiam esta marcha são oriundas de diversos movimentos coletivos e entidades de atuação no estado para defesa da mulher. As mulheres negras unificam nossa luta e nos unem nesta marcha.

- Como é ser negro neste estado "de brancos"? Santa Catarina é um estado racista? Como homens e mulheres negras se sentem aqui?
Ser negro em Santa Catarina é vivenciar e experenciar uma governabilidade voltada para o eurocentrismo, onde nós, mulheres e homens negros, não somos contemplados no acesso a políticas públicas. As leis que deveriam nos incluir e proteger não têm sua aplicação de fato. Santa Catarina está entre os estados que têm o maior número de vítimas de preconceito de gênero e racial, o que coincide com a tradição de sua colonização.

-  Florianópolis permite a mulheres e homens negrxs a ocupação dos espaços centrais da cidade, mobilidade, acesso às artes e cultura?
A falta de recurso é o maior obstáculo para que possamos ocupar estes espaços. Aceitamos migalhas e com elas sobrevivemos a essa invisibilidade insistente.

Jeruse Romão, presidenta do Fórum de Educação das Relações Étnico Raciais de SC (FEDERER) e as integrantes do Coletivo de Mulheres Negras Pretas em Desterro, Claudia Prado , Tatiana Américo e Liliane Bernardes
- O que essa Marcha busca despertar nas pessoas? Quais as expectativas com a ação?
A Marcha busca o  empoderamento do negro através do acesso aos direitos políticos e de exercício da cidadania. Marchamos pela diversidade cultural, liberdade religiosa, contra o genocídio do nosso povo. Marchamos para sermos vistos e termos nosso protagonismo reconhecido na história da construção deste país. Marchamos pelas portas de emprego que se fecham. Marchamos para ter direito a cultuarmos nosso sincretismo. Pelos irmãos quilombolas que resistem ao tempo e insistem em não ser esquecidos. Marchamos por que existimos e resistimos.

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