Fotos: Reprodução TVGlobo
Na semana passada, a denúncia da violência sofrida por Luíza Brunet suscitou, dentre as repercussões, a expectativa da impunidade. É recorrente o comentário de que o processo contra o agressor acusado é infrutífero, já que Lírio Albino Parisotto é bilionário, um dos homens mais ricos do mundo, o político mais endinheirado do Brasil, um dos maiores investidores do mercado financeiro, industrial petroquímico poderoso e, não menos importante, recente proprietário dos veículos de comunicação da RBS Santa Catarina.
Naturalmente, os holofotes se voltariam para um caso em que o agressor ostenta um currículo como este e a vítima é Luíza Brunet. Mesmo os veículos da RBS foram levados a noticiar o fato, ainda que com eufemismo atípico. O que chama atenção na nota divulgada pelo bilionário e repercutida pelos jornais foi o tom de surpresa. Nela, Parisotto lamenta a divulgação do que reduziu a “um fato ocorrido na intimidade”. Como se a agressão equivalesse a um copo quebrado na sua cozinha. Algo que diz respeito a ele, apenas. A denúncia de Luíza o pegou desprevenido e permitiu que se "metesse a colher" no fato que ele considerou privado.
A motivação da agressão foi ciúme, segundo relato de Luíza; álibi que também é batido e está entre os mais recorrentes entre as justificativas para os casos de agressão envolvendo cônjuges. Sempre é importante lembrar que namorados, noivos, maridos ou pessoas com quem as vítimas se relacionaram representam 67% dos agressores nos 63 mil casos denunciados à Secretaria de Políticas para as Mulheres nos primeiros dez meses do ano passado.
Lírio Parisotto desaparece no meio dessa estatística. Faz parecer que nem seria necessário contar com o escudo da sua posição social, econômica e política, trunfos caros e que muitos reservam para crimes que a sociedade considera "mais graves". Talvez, precisasse recorrer a um deles se fosse menor de idade, como o filho do antigo dono da RBS, Sérgio Sirotsky. Ao responder pela acusação no caso do estupro ocorrido há seis anos, o adolescente chegou a declarar na internet a confiança na própria impunidade. Não é possível saber se, ainda que não fosse filho de quem é, teria contado com a parcimônia do delegado que conduziu o caso: mesmo diante da confissão, o delegado afirmou não poder comprovar o estupro por que “não estava no local”.
O fato é que a naturalização do machismo é reiterada todos os dias e conta com apoio transversal das esferas públicas. Talvez o poder político e econômico lhe sirva como blindagem extra, mas Parisotto não precisa de toda a sua fortuna ou da influência direta que lhe prevalece. Basta contar com a conivência da cultura machista perpetuada cotidianamente também por jornais como os que mantêm colunas "sociais" onde se exibe diariamente corpos femininos seminus e tratam as mulheres como beldades, adornos e, em última instância, propriedade dos homens.
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