Reprodução (http://goo.gl/JQuWGq) |
Por Clarissa Peixoto, produção de Paula Guimarães
Um nova perspectiva para desengavetar projetos tem mobilizado pessoas no Brasil nos últimos anos. É o financiamento coletivo que parece ter chegado para ficar. A modalidade permite financiar projetos de diversas áreas, como ciência e tecnologia ou produtos de arte no campo da música e da literatura, por exemplo. Através de uma plataforma na internet, apoiadorxs, anônimxs ou não, podem depositar valores nas campanhas e contribuir para que uma proposta com a qual se identifiquem seja realizada.
É o que aponta a cantora e bailarina, Tatiana Cobbett, sobre como essa experiência tem se tornado uma forma de troca com o público. "Três de nossos cinco discos foram realizados a partir dessa forma de financiamento. Tenho de reconhecer que esse caminho não só nos liberta quanto nos aproxima do nosso público, o colocando como agente e motivador para nossa produção musical. Também nos permite mais autenticidade e nos impõe responsabilidade com o que produzimos, fazendo diferença na demanda cultural", destaca.
Arquivo pessoal - Diogo Reeberg |
Em vigor no Brasil desde 2011, o crowdfunding, como é também chamada essa modalidade, tem movimentado uma série de agentes que buscam outras formas de financiamento de sua produção. Para o co-fundador da plataforma Catarse, Diogo Reeberg, o financiamento coletivo é uma maneira da pessoa fazer parte de uma ideia acreditando em alguém que realiza aquele trabalho. "As pessoas buscam se conectar com alguma causa em que elas acreditam. Na pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo do Brasil, a identificação com a causa foi apontada como a grande razão das pessoas contribuírem para os projetos".
Quando questionado sobre o futuro do crowdfunding no Brasil, Diogo é otimista. Na sua opinião, o financiamento coletivo, ainda recente no Brasil, deve expandir não só o número de projetos, mas propor uma nova mentalidade sobre a subsistência de iniciativas. "Vejo que, cada vez mais, vai se criar um ecossistema ao redor das plataformas de crowdfunding. Profissionais de vídeo, comunicação, gestores de campanha que oferecerão seus serviços para valorizar ainda mais a cadeia ao redor da modalidade. Isso ajudará os projetos a atingir com maior eficiência seus públicos-alvo e alçará o financiamento coletivo como uma das principais modalidades de captação de recursos e gestão de comunidade", diz.
Em busca da sustentabilidade do Jornalismo independente
O jornalismo vive um momento de ruptura com seu modelo tradicional. Não se trata de dizer que a internet substituirá o jornal, ou coisa do tipo, mas de discutir o modelo que o subsidia economicamente. Alguns caminhos podem ser apontados para gerar a sustentabilidade econômica de um veículo, mantendo sua independência editorial. Letícia Bahia, da Revista Azmina, entende que esse pode ser um modelo, mas é ainda é necessário fortalecer a cultura da doação. "O brasileiro é comprovadamente um povo que doa pouco, talvez por acreditar demais em um estado paternalista. É preciso entender que doar para projetos em que se acredita não é filantropia, é investimento".
Investir na produção de jornalismo independente, com uma linha editorial clara e que se proponha a ouvir as diversas vozes da sociedade, é uma realidade em consolidação. Segundo pesquisa do Catarse, 117 projetos de jornalismo já foram lançados, desde que a plataforma foi criada, levantando mais de R$1 milhão. Outras formas de financiamento também são possíveis. Diversos portais e blogs vêm desenvolvem mecanismos de contribuição em seus próprios veículos.
Reprodução - Azmina |
Na possibilidade de subsidiar financeiramente novas ideias, a função social do jornalismo parece ganhar novo fôlego, permitindo que outras narrativas sejam apresentadas à sociedade. Democratizar a comunicação, passa por criar outras iniciativas e redes de informação que sustentem esse segundo passo. De acordo com Letícia o jornalismo independente é a principal resposta ao monopólio da mídia. "Ele dialoga muito mais com o público. Muitas vezes ele se constrói a partir de narrativas de usuários de Facebook, por exemplo. Ele não pretende ter a pompa de um telejornal de TV, que apresenta 'a verdade'. No entanto, há um limite importante do quanto se pode avançar enquanto o país não repensar as concessões de rádio e TV".
Santa Catarina chegando junto!
Artistas e produtores culturais catarinense já participam dessa modalidade de financiamento e têm conseguido alcançar suas metas. Na maioria dos caso, os agentes de projetos nas plataformas optam pelo "tudo ou nada!”, formato em que caso o projeto não atinja o total dos recursos solicitados o valor arrecadado volta para quem o apoio. Desta forma, o desafio é criar uma rede de pessoas que realmente confiam no trabalho proposto, dando ao processo de arrecadação mais transparência.
Tatiana Cobbett é uma entusiasta desta proposta. Desde 2000 vive em Florianópolis e é uma motivadora de projetos culturais locais, além de estar antenada nos resultados dessas iniciativas no Brasil e no mundo. "Por ser uma artista que faz uso da plataforma é óbvio que também me coloco do outro lado, incentivando projetos que considero pertinentes. Sou uma apoiadora constante”. Ela aponta que ainda há uma "desconfiança" sobre a questão do uso do dinheiro e também o desconhecimento sobre as plataformas. “Contudo, isso vem mudando e muito rapidamente. Santa Catarina, por exemplo, está entre os dez estados - no Catarse - que mais fazem uso desta plataforma e com resultado positivo”, reforça.
A catarinense Simone Lolatto, doutoranda em Ciências Humana e ativista social, também é um exemplo de quem defende seu trabalho através de plataforma de financiamento coletivo. A estudante é uma das colunistas do blog Cientista que virou mãe, que trata dos temas maternidade, infância e empoderamento feminino. O veículo também vem financiando a produção de conteúdo através de plataforma própria. Simone está em campanha para financiar a produção de seu artigo “Ser mão ou não ser mãe? - Reflexos sobre aborto, saúde, anticoncepcionais e direitos”, um tema bastante polêmico e que relaciona não só sua competência profissional e acadêmica, como seu ativismo feminista.
“Vejo a alternativa do financiamento coletivo como mais uma forma de aproximação entre pessoas que batalham para produzir algo que acreditam muito, que botam fé naquilo que estão idealizando, e submetem este produto à sociedade para que avalie a necessidade (ou não) de tornar aquilo que é uma ideia em realidade”.
Simone aponta que há muito tempo as ativistas vêm se propondo a produzir conteúdo, geralmente em caráter gratuito, e esse pode ser um momento de conhecer um novo formato de dar sustentabilidade à produção de textos. “Estamos nos propondo a escrever com responsabilidade, sabendo que a publicação num portal de internet, de irrestrito e amplo acesso, é algo muito sério. Nossa proposta é viabilizar a 'produção sustentável', de um portal que não é financiado por empresas interessadas no 'comércio materno-infantil’”, finaliza.
O artigo “Ser mão ou não ser mãe? - Reflexos sobre aborto, saúde, anticoncepcionais e direitos” está em financiamento coletivo até o fim do dia 04 de abril.
O artigo “Ser mão ou não ser mãe? - Reflexos sobre aborto, saúde, anticoncepcionais e direitos” está em financiamento coletivo até o fim do dia 04 de abril.
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