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segunda-feira, 6 de junho de 2016

RBS usa imagens de ato de mulheres em notícia sobre Marcha da Maconha



Pela segunda vez, a RBS TV, afiliada da Rede Globo em Santa Catarina, usou imagens da Marcha das Vadias para ilustrar uma nota no Jornal do Almoço sobre a Marcha da Maconha. A denúncia veio de Angela Medeiros, ativista do movimento das mulheres negras e estudante de Psicologia da UFSC, que aparece no vídeo com o filho de um ano no colo. O vídeo que trazia a nota do colunista Cacau Menezes já havia sido retirado do site por determinação da justiça em novembro de 2013, três meses depois de ir ao ar. Na última quarta-feira (1/6), mais uma vez a “notícia” sobre a Marcha da Maconha, que estava prestes a ocorrer, foi coberta com as mesmas imagens da Marcha das Vadias, realizada em 2011.  

Vídeo aqui



“Enquanto recebia mensagens de amigos, o que eu vivi foi um verdadeiro ‘déjà vu’”, conta Angela sobre a repetição do erro pela mesma rede de TV. Em 2013, ela já havia acionado a RBS na justiça para pedir indenização por danos morais pelo uso indevido de imagem. 



A sentença de primeira instância foi favorável para a autora, mas a ré recorreu da decisão e o processo de número 0003421-25.2013.8.24.0090 segue no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Angela pede reparação de R$ 30 mil, sendo R$ 20 mil para ela e R$ 10 mil para o filho. 



“Eles (representantes da RBS) alegaram que se eu estava na Marcha das Vadias poderia estar em qualquer outra. Não sou usuária de maconha e nem participaria desta marcha. Como exibir a minha imagem, segurando meu filho bebê no colo, em uma manifestação da qual não participo?”, questiona ela. 

Maiores maconheiros de Florianópolis
O vídeo foi retirado do site por decisão da juíza Morgani de Melo do Juizado Especial Cível e Criminal da Trindade que aceitou o pedido de Angela para que a segunda ré, Globo Comunicação e Participações S/A, retirasse “a matéria jornalística ou editasse de forma a não mais serem utilizadas as imagens sob pena de multa diária de R$ 1 mil”. 

“A autora Ângela, segurando no colo seu filho, também, autor, Pedro, presente na Marcha das Vadias, foi indevidamente utilizada para ilustrar a Marcha da Maconha, com o agravante, ainda, de o comentarista Cacau Menezes afirmar que nessa estariam presentes os maiores maconheiros de Florianópolis, insinuando, portanto, que a autora e o filho seriam usuários dessa droga”, afirma a juíza no documento em que concede a antecipação da tutela.

Nem maconheira, nem simpatizante
Angela em ato "Amanhecer Floripa" 
Ângela diz que se sente desrespeitada como mãe e militante feminista, especialmente porque o vídeo continua no portal. Ela pretende acrescentá-lo ao processo e pedir a retirada novamente. “É um absurdo! A primeira coisa que pensei foi na falta de profissionalismo. Trata-se de um jornalismo totalmente irresponsável, sem nenhuma responsabilidade com as pessoas, com uma mãe. Vou endossar a denúncia no processo”, afirma.

Os pais de Angela assistiam ao jornal nas duas vezes em que o vídeo foi ao ar. “Meu pai que mora em outro estado ficou indignado de eu aparecer numa marcha com o meu filho pequeno. Ele questionou se eu estava aqui para estudar ou fumar maconha. Além de eu não fumar maconha, não sou defensora da causa”, disse ela.

O que diz o Código de Ética dos Jornalistas
O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Aderbal Filho, lembra que a divulgação de informação, precisa e correta, é dever dos meios de comunicação pública, independente da natureza de sua propriedade. E que o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos. O Código de Ética dos Jornalistas diz em seu artigo 7 que trata da conduta do profissional: "o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação".

De acordo com o presidente, qualquer cidadã ou cidadão que se julgue prejudicada/o de alguma forma por uma divulgação jornalística incorreta ou uso indevido da imagem tem o direito de buscar a reparação. Ele se diz surpreso pelo não reconhecimento do erro pela rede de TV. “Além de não reconhecer o erro e recorrer da decisão, ainda reincidiu ao reutilizar a imagem de uma manifestação pública com uma determinada finalidade para referir-se a outra, de finalidade distinta. O mínimo que se poderia esperar, já que a RBS sabia que uma pessoa havia se declarado prejudicada, era respeito. Não dá para defender o indefensável”, afirma o representante.

Posição da rede de TV
Romi de Liz da comunicação corporativa da RBS TV afirmou que o vídeo será retirado do site. "O equívoco ocorreu durante o processo de edição. A matéria foi despublicada do site, assim que a produção tomou conhecimento da situação. Pedimos desculpas aos envolvidos", disse em nota enviada por e-mail ao portal Catarinas.


Que feminismo te contempla? Roda de conversa reúne movimentos feministas

Por Clarissa Peixoto

A Marcha das Vadias de Florianópolis reuniu na tarde do último sábado (5) um conjunto de organizações feministas, das mais diversas vertentes e atuações, para uma roda de conversa, na sede do Instituto Arco-íris, no centro da cidade.

Que feminismo te contempla? foi o mote da roda de conversa que teve como objetivo compartilhar vivências e discutir perspectivas de luta feminista em Florianópolis. 

A reunião promoveu também o encontro de um número expressivo de organizações, sejam de controle ou de mobilização social, que puderam expor suas concepções e objetivos ao grande grupo, numa tarde fria de junho, aquecida pelo vigor das ideias e experiências trocadas. Mas, a atividade foi além: reforçou aspectos como a sororidade entre os movimentos na intenção de confrontar as diversas formas de opressão de gênero e sexualidade.

As primeiras colocações para estimular o debate foram feitas pelas integrantes da Marcha das Vadias que apresentaram o desejo do coletivo de organizar a marcha a partir de encontros com os demais movimentos. “As lutas contra as opressões não devem caminhar separadas, principalmente neste momento em que há um quadro de retrocessos e forte ofensiva do campo religioso”, apontou Éris Alice. Na sequência, houve a apresentação de um vídeo sobre a marcha, produzido pelo coletivo de comunicação Maruim.

Na roda de conversa, cada coletivo falou sobre o contexto em que atua e sua relação com a questão de gênero, como foi o caso da Batalha das Mina que reúne mulheres que atuam no rap. De acordo com a integrante do grupo, Marcelle Costa, o movimento surgiu porque nas batalhas tradicionais, “os homens apelavam para as roupas e para a sexualidade das mulheres. Por isso, nasceu a Batalha das Mina, para dar voz as mulheres no rap. Machista na batalha não vai ter espaço”, reforçou.

Hellen Lopes, também da Batalha, aponta que um dos objetivos do coletivo é “denunciar a opressão de gênero no nosso espaço e na rua. As mulheres ainda estão longe de chegar no lugar dos homens que fazem rap, então nos unimos para criar uma batalha para as mulheres e para LGBTs que são reprimidxs no movimento. Somos tratadas como minoria”.

Carla Ayres, do grupo Acontece Arte e Política LGBT, reforçou a fala enquanto mulher lésbica e definiu a compreensão do coletivo sobre o feminismo como “um movimento político, teórico e popular, que reconhece a sociedade como patriarcal e o capitalismo como sistema que promove as desigualdades”.

Outras perspectivas de luta feminista também estiveram presentes. Entre elas, o coletivo Ana Montenegro apontou como saída a superação do capitalismo por uma sociedade socialista. Perspectiva semelhante foi trazida também pelo Mulheres em Luta. Para Gabriela Santetti, representante do movimento, “a luta das mulheres encontra um limite na sociedade de classe, por isso o feminismo tem que estar ligado ao recorte classista”.

Quando o assunto foi a violência de gênero e racial, Cristiane Mare da Silva, da Unegro, apontou as especificidades da luta da mulher negra e os porquês de poucas ocuparem aquele espaço de discussão “Se as mulheres negras não estão aqui é porque não se sentem representadas. Dialogar com as mulheres brancas não é uma tarefa fácil”. Cristiane enfatizou ainda a história de opressão à população negra e como ela reflete diretamente nos dias atuais. 

Entre os demais movimentos presentes estiveram: Agrupa/UDESC; Casa da Mulher Catarinas, Rede Nacional Feminista de Saúde, Maria Bonita/Biologia UFSC, ADEH, Estrela Guia, Conselho Estadual de Direitos da Mulher, Conselho Municipal de Direitos da Mulher/Florianópolis.